Leproso! Sim, é o que sou,
Esquecido dentro desta cela imunda
Acompanhado somente de meus dejetos,
Do ódio imorredouro, da revolta angustiante,
E dos pedaços decadentes de minha pútrida carne...
Eu, que um dia tive uma pátria,
Uma digna vida, família, amigos e respeito,
Hoje sofro, com grande dor e despeito,
Pela indiferença recebida, daqueles que outrora afirmaram me amar...
Louco, é o que hoje sou!
Um louco monstro deformado,
Alimentando-me dos vermes e dos ratos,
Bebendo a urina fétida em cálice quebrado...
Vejo com horror no pequeno pedaço de metal polido,
Dia após dia, a vil doença pouco a pouco me consumir...
Como és dura, oh Fortuna, deusa inclemente do tempo que não cessa,
Como é doloroso sentir as moscas pousarem em minhas purulentas feridas,
E inalar o acre aroma da morte que lentamente se aproxima...
FST