sexta-feira, 11 de maio de 2007

Sem título

Vadia!
É assim que gostas de ser tratada
Infame prostituta
Que noite após noite perambula solitária
Vendendo este corpo doente
E este gozo sem amor...
Abjeta filha das sarjetas
Tão cedo perdestes a inocência
Nas frias ruas da imensa cidade
Que abriga sem amparar...
Agora, tu não passas de carne sem alma,
De vida sem esperança,
De semanas insones, sem descanso...
Teus dias resumem-se no completo amortecimento,
Aguardando as infindáveis noites de tormento:
- Luiz, Pedro, José, Antônio, Carlos, João!
Quantos já possuíram e destruíram
Este decadente templo de ignóbil prazer?
Vadia!
É apenas isto que realmente tu és,
Mas, mesmo não passando de farrapo humano,
Por que dedico a ti tanto e tão verdadeiro amor?
Por que consigo enxergar ternura
Nos débeis olhos que friamente me fitam
Mas nada enxergam?
Por que me entreguei assim a este sentimento sem futuro?
Procuro-te noite após noite em qualquer fétido lugar
Onde sinto teu cheiro de luxúria...
Sigo teu rastro como um viciado procura a droga que tanto o acalma;
E, como todo verdadeiro viciado,
Rompo a aurora enlaçado em teus braços,
Que tantos já abraçaram antes de mim,
E tantos ainda irão abraçar...
Saciando, quem sabe, algum secreto desejo teu,
Falando, gemendo, gritando
A indecente e deliciosa injúria
Que tu sempre me pede para chamar-te
Na hora do êxtase total:
- Vadia!

FST